E-PORTEFÓLIO
Iniciação à Prática Profissional II
REFLEXÃO INDIVIDUAL DE MELITA CASSIANO
O presente relatório de estágio de observação participante foi elaborado no âmbito da Unidade Curricular de Iniciação à Prática Profissional II do 1.º ano do Curso de Licenciatura de Educação Básica da Universidade da Madeira, na Valência Pré-Escolar, tendo como regente desta Unidade Curricular a Doutora Maria Gorete Pereira.
O estágio, com a duração de dez horas, decorreu no dia vinte e seis de Março e nos dias dois, três, nove e dez de Abril do ano de dois mil e catorze, na Instituição Auxilio Maternal.
Fomos muito bem acolhidas na instituição, não só pela Coordenadora Dra. Isabel Queirós, como também pela Educadora Sandy Marques e por toda o grupo docente e não docente.
A instituição situa-se na freguesia de São Pedro, no Funchal, uma zona urbana habitacional de fácil acesso e exposição solar. As salas têm iluminação e arejamento naturais, e a cozinha, destinada à confecção e preparação dos alimentos para as crianças possui todos os equipamentos adequados.
Cada colaborador desempenha na instituição o seu papel. A função de cada um é importante, indispensável e respeitada. Trabalham todos para o mesmo fim: o Bem - estar das crianças.
Quando falamos em crianças, temos que ter a consciência do quão delicado e complexo é abordar este tema. Falamos de pequenos e indefesos seres, dotados de grandes capacidades de aprendizagem. As crianças são vida! Não temos o direito de lhes tirar o sorriso. Não podemos esquecer que se tratam de seres humanos que merecem o nosso respeito.
As crianças têm direitos, a as suas diferenças merecem ser respeitadas.
“A não discriminação, que significa que todas as crianças têm o direito de desenvolver todo o seu potencial – todas as crianças, em todas as circunstâncias, em qualquer momento, em qualquer parte do mundo”. (Convenção sobre os Direitos da Criança [CDC], 21 de Setembro de 1990).
Escolhi iniciar a minha reflexão, com base em alguns princípios educativos de Gabriela Portugal:
“Princípio 1 – Envolver as crianças nas coisas que lhes dizem respeito; Princípio 2 – Investir em tempos de qualidade procurando-se estar completamente disponível para as crianças; Princípio 3 – Aprender a não subestimar as formas de comunicação únicas de cada criança e ensinar-lhe as suas; Princípio 4 – Investir tempo e energia para construir uma pessoa “total”; Princípio 5 – Respeitar as crianças enquanto pessoas de valor e ajudá-las a reconhecer e a lidar com os seus sentimentos; Princípio 6 - Ser verdadeiro nos nossos sentimentos relativamente às crianças; Princípio 7 – Modelar os comportamentos que se pretende ensinar; Princípio 8 – Reconhecer os problemas como oportunidades de aprendizagem e deixar as crianças tentarem resolver as suas próprias dificuldades; Princípio 9 – Construir segurança ensinando a confiança;
Princípio10 – Procurar promover a qualidade do desenvolvimento em cada fase etária, mas não apressar a criança para atingir determinados níveis desenvolvi mentais”. (Educação de Bebés em Creche – Perspectivas de Formação Teóricas e Práticas, Gabriela Portugal).
O nosso estágio, como já foi referido, teve apenas uma duração de dez horas. Mas, como decorreu em cinco dias, facilitou a nossa aproximação com as crianças, o que beneficiou a oportunidade de estabelecimento de uma maior afinidade com o grupo.
Não se notaram comportamentos fora do “padrão normal”, apenas alguma timidez por parte de algumas crianças. Sentimos que não causamos desconforto nas crianças, mas sim alguma curiosidade e agitação numa fase inicial.
Não sentimos desinteresse por parte das crianças para connosco. Tivemos um contacto mais próximo com a educadora, porém as auxiliares agiram com naturalidade à nossa presença.
Tivemos a sorte de estarmos inseridas numa instituição que respeita o Projecto Curricular de Escola, assim como o Projecto Curricular de Grupo. Uma instituição defensiva do modelo de Escola Moderna, em que todo o grupo, pessoal docente e não docente, trabalha com afinco para o mesmo objectivo, o bem-estar das crianças.
Ao estudarmos o desenvolvimento característico da criança nesta faixa etária (entre os três e os quatro anos), e o perfil específico do educador de infância (tendo em conta os objectivos a atingir), e comparando à realidade por nós vivenciada na sala dos “Gatinhos”, facilmente concluí que o comportamento destas crianças em termos de desenvolvimento é o característico, e por outro lado, a educadora cumpre o perfil especifico.
Observei que as crianças estão muito bem integradas e com uma rotina estabelecida e segura, indispensável para o bom desenvolvimento das mesmas. Não fazem muita resistência ao passar por exemplo de um momento lúdico (actividade livre) para um momento de maior concentração, e ainda que tentem “testar” os adultos, sabem perfeitamente, até onde podem ir.
A rotina possui um papel de extrema importância e é educativa, porque é intencionalmente planeada pelo educador e é conhecida pelas crianças. A rotina ajuda as crianças a saberem o que podem ou não fazer nos diversos momentos, e tem um papel fundamental no sentido de que transmite segurança, havendo uma sucessão (e repetição) de acontecimentos que a criança consegue compreender. É crucial na organização e gestão do tempo para todo o grupo pedagógico (a educadora consegue preparar a sua planificação de forma mais organizada) e é importante para assegurar as necessidades das crianças: físicas (alimentação, sono); afectivas; segurança (clareza, limites, saber onde pode chegar); reconhecimento (sentir-se aceite); competência (sentir-se capaz).
Segundo Gabriela Portugal, garantida a satisfação das capacidades das crianças, estão reunidas as condições mínimas (base). A criança conhecendo o bem-estar emocional, sentindo-se bem consigo mesma, estará apta a realizar novas aprendizagens baseadas em finalidades educativas. A rotina é tão ou mais importante do que as planificações, pois sem esta é praticamente impossível programar uma actividade de forma organizada e pedagógica.
A forma como a educadora organiza a sala, nomeadamente a disposição dos materiais (“os cantinhos”), e a forma como orienta o grupo (o “grande grupo” quando por exemplo se reúne no tapete para que todas as crianças a escutem, ou o “pequeno grupo” quando se reúne com apenas alguns elementos para determinada actividade, podendo observar e avaliar a criança individualmente), é na minha opinião a correcta.
A forma como a educadora interage com as crianças (posicionando-se ao nível das mesmas, e adaptando por exemplo a linguagem à da criança), e a forma como orienta as actividades (atribuindo pequenas responsabilidades às crianças, tendo em conta as suas capacidades, ou elegendo um chefe que à quarta-feira, leva para casa, a saquinha das surpresas, com a responsabilidade de no dia seguinte, trazer uma história para partilhar com os amigos), fazem com que as crianças adquiram responsabilidade, se sintam úteis e tomem gosto pela leitura.
Todos estes aspectos (entre outros) vão de encontro ao que se pretende no perfil específico de uma educadora do Ensino Pré-escolar.
A Educadora da sala dos “Gatinhos” é, no meu entender, um exemplo a seguir no que diz respeito ao papel e perfil de um Educador de Infância. É uma educadora profissional e pensa sempre em função do melhor para a criança. É responsável, carinhosa e conhece bem as suas crianças, atendendo às suas necessidades, respeitando a individualidade de cada uma, transmitindo assim, segurança.
De acordo com o Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto, uma educadora de infância: ”Cria e mantém as necessárias condições de segurança, de acompanhamento e de bem-estar das crianças”; “ relaciona-se com as crianças de forma a favorecer a necessária segurança afectiva e a promover a sua autonomia”; “ apoia e fomenta o desenvolvimento afectivo, emocional e social de cada criança e do grupo”.
São competências que durante o período de estágio consegui observar na Educadora Sandy Marques. Segundo esta, “ (…) na nossa profissão não basta apenas o trabalho a desenvolver, mas também amar acima de tudo aquilo que fazemos”.
De acordo com o Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto podemos constatar que o educador de infância:
“a) Observa cada criança, bem como os pequenos grupos e o grande grupo, com vista a uma planificação de actividades e projectos adequados às necessidades da criança e do grupo e aos objectivos de desenvolvimento e da aprendizagem;
b) Tem em conta, na planificação do desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem, os conhecimentos e as competências de que as crianças são portadoras;
g) Promove a autonomia dos alunos, tendo em vista a realização independente de aprendizagens futuras, dentro e fora da escola”.
É de salientar que o trabalho em equipa, do grupo pedagógico e da própria família é indispensável. O estabelecimento de um elo entre a creche e a família é também uma das responsabilidades do educador de infância. Por outro lado, as famílias como principais interessadas deveriam ser as primeiras a procurar essa interacção (e não apenas nas épocas festivas e reuniões).
Pelo que observamos nos registos da educadora, há uma preocupação por parte da mesma em atender às necessidades dos pais a fim de resolver alguma situação anómala que possa surgir.
Desta forma se estabelece um elo entre casa e escola, neste caso, na valência Pré-escolar.
A Lei – Quadro da Educação Pré-escolar (Lei n.º5/97, de10 de Fevereiro), consagra este nível educativo como “ (…) a primeira etapa de educação básica no processo educativo ao longo da vida, sendo complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita relação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário.”
Aprendi com esta experiência, sobretudo nas aulas teóricas, que os futuros educadores /professores assim como qualquer outro profissional têm que estar motivados, pois quem não está motivado não consegue motivar ninguém. Assim sendo, gostar não basta para quem pretende trabalhar com crianças. Como futuros educadores e professores temos a responsabilidade de conquistar a confiança das crianças, ensiná-las a serem elas próprias (aprender a Conhecer, a Ser, a Viver em Sociedade).
A criança deverá ter o direito de poder desenvolver as suas capacidades. Esse é o papel que se pretende na educação.
Outro objectivo é proporcionar ambientes de aprendizagem que promovam o desenvolvimento emocional e motor da criança. A criança só irá superar as suas capacidades se tiver uma boa auto-estima, segurança, se for respeitada, vivendo à base da confiança. Deverá ser estabelecido um elo entre a família e a creche/escola. Este é crucial visto que irá enriquecer os interesses, as aprendizagens, as motivações, e as dificuldades serão superadas com maior facilidade.
É nosso dever promover actividades adequadas aos níveis de desenvolvimento e interesse das crianças, estabelecendo uma rotina diária, sabendo observar e encorajar, tendo em conta que cada uma é especial.
O Educador ao longo de toda a sua carreira deverá actualizar o seu conhecimento, pois deverá ser uma fonte fidedigna para as suas crianças.
Na minha opinião todos os aspectos observados, sejam eles positivos ou não servem para o nosso crescimento pessoal.
A teoria apresentada nas aulas pela regente desta Unidade Curricular juntamente com o nosso estágio, contribuiu para um bom momento de aprendizagem. Neste sentido, agradeço à Doutora Gorete Pereira, pela partilha dos seus conhecimentos, pela disponibilidade prestada, bem como pelas palavras de incentivo. Agradeço à Coordenadora Dra. Isabel Queirós, à Educadora Sandy Marques pelo acompanhamento no decorrer de todo o período de estágio. Às crianças principalmente, pois sem elas nada teria sido possível.
Por fim, gostaria apenas de referir que a nossa experiência, não teria sido tão bem conseguida se não houvesse um ambiente de trabalho tão bom entre mim e a minha colega Luísa Sousa.
